sábado, 31 de julho de 2010

Comissão de Combate à Intolerância Religiosa recebe mais uma queixa de preconceito por parte de familiares de vítima

“As religiões, infelizmente, têm sido o instrumento para separações de várias famílias. Nós, da Comissão, trabalhamos arduamente no sentido de conscientizar as pessoas que, independente das crenças, a união é o mais importante, principalmente no que diz respeito a parentes”. Essas foram as primeiras palavras do porta-voz da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), Ivanir dos Santos, após receber mais uma denúncia de preconceito religioso envolvendo familiares de um menor recolhido para preceitos do Candomblé, em um centro no Pechincha, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, no último dia 26.
O líder espiritual Alexandre Nunes Feijó, 38 anos, procurou a comissão depois de passar por constrangedora situação onde mantém o menor I., de 14 anos, com a autorização da mãe, Elisângela Campos Pereira. Segundo Feijó, avó e tia do menor não aceitam a escolha dele e da mãe por tratarem suas espiritualidades na religião.

De acordo com os relatos de pai Alexandre, a tia de I. é evangélica e, juntamente com a avó, também mãe de Elisângela, foi ao Ylê Omim Axé Omo Erinlé para saber como estava o menor. O religioso conta que estava fazendo compras no Mercadão de Madureira quando recebeu uma ligação de sua irmã avisando-o da presença dos familiares de I. Elisângela, que é cobradora, estava em horário de trabalho e também foi pega de surpresa com a notícia de que mãe e irmã estavam na porta da casa de santo.

- Eu estava fazendo compras para dar continuidade aos afazeres do ritual de I. Quando minha irmã ligou e contou que avó e tia queriam ver o menino, pedi para que as convidassem a entrar e me aguardar, pois tinha a intenção de explicar a impossibilidade de vê-lo por conta do preceito religioso, - conta Alexandre.

Ainda de acordo com ele, as duas não aceitaram o convite e o esperaram do lado de fora. Com sua chegada, chamaram a polícia.
Sem qualquer mandado, os policiais não puderam adentrar o local. Contudo, pediram para que Alexandre os acompanhasse até a 32ª Delegacia Policial (Taquara). Como, segundo Feijó, tinha autorização de Elisângela e não temia a qualquer acontecimento, prosseguiu conforme pediram os policiais.

- A responsável por I. é a Elisângela. A única coisa que fiquei com receio foi pelo fato dela estar em pleno horário de trabalho. Ao ser avisada da confusão, ela entrou em desespero e largou o ganha pão para acompanhar o que ocorria -, contou.

Na DP, o inspetor registrou queixa contra avó e tia por ameaça e injúria por preconceito. Vale ressaltar que a Lei CAÓ, número 7.716/89, em seu Artigo 20, instrui o registro de casos de intolerância religiosa. “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa”. Contudo, tia e avó não confirmaram a versão de Alexandre e registraram queixa contra o religioso por calúnia. Ainda segundo o líder candomblecista, o esposo da tia de I. tentou agredi-lo e o ameaçou gritando que não sabia do que era capaz.

- Na DP, elas negaram ter me chamado de macumbeiro e ofendido minha religião. O esposo da tia de I. gritou que era para eu pedir para não cruzar com ele nas ruas, porque não sabia do que era capaz de fazer. Não sou covarde, mas quero mostrar que a lei deve ser cumprida, por isso procurei a CCIR -, disse.

Em reunião com os membros da Comissão, na última quarta-feira, dia 28, Alexandre recebeu apoio e foi informado que a Comissão tenta convencer o titular da delegacia a modificar a capitulação do registro conforme o Artigo 20 da Lei CAÓ.


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Comissão de Combate à Intolerância Religiosa
Ricardo Rubim - Coordenador de Comunicação CCIR/RJ
Tel: 21 7846-0412 / 21 2273-3974 / 21 2232-7077

"Sete Ventos" no Teatro II do SESC Tijuca - Espetáculo baseado em depoimento de mulheres negras de Iansã

SETE VENTOS é um monólogo interpretado pela atriz Débora Almeida baseado em depoimentos de mulheres negras de Iansã, já cumpriu duas temporadas no Rio de Janeiro, sendo contemplado pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro e acaba de retornar de Salvador, onde foi apresentado no Teatro Vila Velha a convite da SEPROMI- Secretaria de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia em comemoração pelo Dia da Mulher Negra Latino- Americana e Caribenha.

O espetáculo narra a trajetória da escritora Bárbara, filha de Iansã. Ela relembra junto ao público as histórias de mulheres negras que a influenciaram. Através dos relatos de Bárbara contamos a história da pessoa negra que tenta reconstruir a sua identidade através das contradições de seu cotidiano.

Entre as mulheres entrevistadas, contamos com Conceição Evaristo, Vanda Ferreira e Lucia Xavier, do Criola.

Débora Almeida é atriz, formada pela UNI- Rio, integrou o elenco da Cia dos Comuns durante 9 anos, participando dos espetáculo “A Roda do Mundo”, “Candaces- A Reconstrução do Fogo”, “Bakulo- Os Bem Lembrados”, dirigidos por Marcio Meireles, e “Silêncio”, dirigido por Hilton Cobra. No cinema participou dos filmes “Jogo de Cena”, de Eduardo Coutinho” e “Crimes de Ódio” de Patrícia Freitas.


SERVIÇO:
Temporada de 06 a 29 de agosto. Sextas, sábados e domingos às 19h
Local: Teatro II do SESC Tijuca Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca


Clique na imagem para ampliar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Centro de umbanda é atacado com bolas de gude na Ilha do Governador (RJ)

A Tenda dos Pretos Velhos, na Ilha do Governador, foi alvo da intolerância religiosa no último sábado. De acordo com o sacerdote Etiene Sales, bolas de gude foram lançadas sobre o local desde o início da sessão. Ele pretende pedir orientação ao delegado Henrique Pessoa, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) sobre que providências tomar a respeito.

- Assim que começou a sessão, começaram a tacar as bolas de gude. Não reparei, mas outras pessoas disseram que durante e no fim da sessão os objetos também foram jogados. Ainda bem que tem cobertura, porque havia crianças e idosos no local. Alguém poderia ter se machucado. Vou conversar com o delegado Henrique Pessoa. A experiência que temos neste assunto diz que a coisa tende a aumentar - afirma Etiene, colunista do Religião e Fé e membro da CCIR.

O ataque causou surpresa porque as sessões ocorrem há um ano e meio e terminam antes das 22h.

- As bolas vieram dos fundos. Encontrei umas seis, mas, como a cobertura é alta, acredito que outras podem ter batido e resvalado para fora. Há 12 anos vivo aqui e começamos a bater (fazer a sessão) há um ano e meio. Isso nunca aconteceu. E olha que os trabalhos começaram cedo, às 18h, e terminaram às 21h.

Acontecimentos em São Paulo - 01/08/2010

5° Encontro de Sacerdotes e Mediuns e Umbandistas
01.08 - 10 às 17 h
Rua Doze de Setembro, 1337 - Vila Guilherme - São Paulo - tel. 11 2909-8642

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AUEESP
01.08 - 15 h
Festa de Exu e Pombagira
Clube Parque da Mooca - Rua Taquari, 635 - São Paulo
Ref: em frente a Faculdade Universidade São Judas Tadeu

Saudades para Mãe Sheila, seus filhos e a comunidade do ILÉ ÀSE ÀÁFIN ÀBÀMÌ OSUN

Morre aos 71 anos, na manhã deste domingo, Altair da Silva Homem, mãe carnal da Iyalorisa Sheila da Osun da tradição Ketu no Rio de Janeiro. Oyace, como era chamada pelo povo do sando, estava internada no CTI do Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo (RJ), onde recuperava-se de uma grave infecçao pulmonar.

Dona Altair, sentiu-se mal em um dia pela manha e foi levada para pronto atendimento no UPA do Engenho Novo. Com grande dificuldade de respirar, foi imediatamente sedada e "entubada" para ventilação pulmonar. Com restrições tecnologicas, e sem receber alimento via horal, Dona Altair permaneceu por cerca de 10 dias na "Sala Vermelha" da UPA. Com o auxílio e a solidariedade de membros da CCIR - Comissão de Combate a Intelerancia Religiosa do estado do RJ, dentre eles Cel. Ubiratan Ângelo, logrou-se êxito na tranferencia para a UTI do Hospital em Realengo, onde passou a receber alimentos via tubos, os médicos conseguiram melhorar o quadro infeccioso, realizaram o procedimento de traqueostomia, o que permitiu retirá-la do estado de coma indusido. Porém, Dona Altair sofria de mal de Alzheimer em estágio avançado, o que veio a piorar ainda mais, devido ao quadro infeccioso. O mal de Alzheimer não tem cura, e pode levar a morte.

Na manhã de domingo (25), a Mãe Sheila é contactada pela equipe do hospital pedindo que se dirijisse até o local, onde teve a notícia.

O corpo de Oyace foi levado para a capela C do cemitério do São Francisco Xavier, no Cajú, onde foi realizado o ritual de Axexê antes do sepultamento.

"Agradeço de coração a presença, companhia e a ajuda, não só no
velório, como no asésé e no sepultamento de minha mãe Oyàse.
Estou muito
cansada, mas com meu coração em paz, pois foi feito o que devia ser feito, e
para quem viu e prestou atenção, constatou a mudança fisionômica da Oyàse, após
o ritual... estou com meu coração em paz.
Obrigada a todos... meu marido,
irmãos, filhos, filhos de santo, amigos e parentes."

Disse Mãe Sheila.

O enterro aconteceu as 14:00h de segunda-feira (26) e estiveram presentes familiares, amigos, e "netos de coração" (filhos de santo da casa de Mãe Sheila).

Oyace foi iniciada para Oya, no culto a orisa tradição Ketu em 1983. Um mes depois da "obrigação" de 7 anos de santo de Sua filha carnal, Mãe Sheila da Osun.

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Paulo Franco
paulofrancorio@hotmail.com

quinta-feira, 22 de julho de 2010

I Baraketu - Religiões de Matrizes Africanas - Passado, Presente e Futuro



O I Baraketu conta com a presensa de Fátima Damas como palestrante na Mesa 01 às 14:30h e com o Babalawo Ivanir dos Santos como palestrante na Mesa 03 às 17:30h.

Dia: 24 de julho de 2010.
Horário: das 14:00h às 20:00h.
Local: Teatro Armando Gonzaga.
Endereço: Av. Gal Osvaldo Cordeiro Farias, 511, Marechal Hermes (em frente o Hosp. Carlos Chagas).
Confirme presença pelos tels.: 3455-0882 / 9659-9526

Não Perca!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

CAMINHADA EM DEFESA DA VIDA - Candelária Nunca Mais!

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) completou 20 anos neste 13 de julho de 2010. Há 17 anos o Movimento em Defesa da Vida, formado por uma série de Instituições comprometidas com a defesa e a garantia de direitos das crianças e adolescentes, realiza esta manifestação pública em forma de passeata no dia 23 de julho, dia em que ocorreu a Chacina da Candelária, quando, há 17 anos, foram barbaramente assassinados 08 jovens aos redores da Igreja da Candelária.

A Caminhada em Defesa da Vida – Candelária nunca mais! – é um movimento de mobilização pela Vida, pela Paz, pela Liberdade, Respeito e Igualdade. Mas também é um movimento de denúncia e repúdio a toda e qualquer forma de violência, discriminação, crueldade e opressão contra crianças, adolescentes e jovens, sem distinção de cor, raça, classe, gênero ou credo.

Não à criminalização e morte de nossa juventude! É preciso consolidar a cultura a favor das crianças e adolescentes de nosso país como prioridade absoluta. Criança e adolescente têm que ter prioridade nas Políticas Públicas e no Orçamento Público!

A história não chegou ao fim. Somos nós quem a escrevemos e a mudamos todos os dias. Seja você também mais um a somar nesta luta por um mundo e uma humanidade melhor!


Confira a Programação:






Instituições organizadoras: Pastoral do Menor Estadual, CHEIFA, Proj.Legal, Assoc.Amar, Ass.São Martinho, Forum Estadual da Criança e do Adolescente, Rede Rio Criança, Rede Criança Baixada, Movimento Moleque, São Domingo Sávio ( Acari), o CEAP, MOVIM.NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS/RJ , Rede Contra a Violência, Casa do Menor S.Miguel Arcanjo, Bnai Brit, CRP R1, Se essa Rua Fosse Minha , REMER, Conselho Estadual e Defesa da Criança e do Adolescente, CDDHC/ALERJ e Pastoral de Favela.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Utilidade Pública - Atendimento médico‏ no RJ. Casa Francisco de Assis

A CASA DE FRANCISCO DE ASSIS mantém diversos médicos com divérsas especialidades, que atendem com hora marcada pessoas com renda comprovada de até 3 (três) salários mínimos, ao custo de R$10,00 a R$15,00. Para aqueles que não possam pagar os valores citados anteriormente, será feita uma avaliação com a Assistente Social para ser concedida gratuidade.
Confira as especialidades:

- Homeopatia (Crianças)
- Cromoterapia
- Pediatria e Otorrinolaringologia
- Psicologia Infantil
- Pediatria
- Fonoaudiologia (CRECHE)
- Psiquiatria
- Nutricionista
- Psicologia
- Odontologia
- Crianças e Adultos
- Cardiologia
- Ginecologia
- Fisioterapia
- Serviço Social


A CASA DE FRANCISCO DE ASSIS é situada à rua Alice 308 no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro-RJ
Tels: 2265-9499 e 2557-0100
e-mail: cfassis@uol.com.br
Site: http://www.casadefranciscodeassis.org.br/

domingo, 18 de julho de 2010

Cultura Religião - Entendendo Suas Origens (Coluna de Paulo Franco)


"Nação Jêje Nagô"
Por Paulo Franco

Olá queridos Leitores! É com imenso prazer que disponibilizo este material on-line, tal como o escrevo.

É do conhecimento de todos, que existem no Brasil práticas oriundas de divérsas partes da África, e ainda práticas que se consolidaram aqui mesmo no Brasil devido a missigenação cultural, e muitas vezes são motivos para grandes polêmicas.

Vamos ler o texto enviado por uma colaboradora:


"A nação Jêje Nagô é uma religião afro-descendente que teve origem na antiga Dahomé, hoje é a atual República de Benin na África, sua origem se deu através da FAMÍLIA JI, mais tarde especificamente NAUÁ (NANÃ) como sua fundadora e matriarca, sua união teve início através de bairros vizinhos dentro da Dahomé que com constantes guerras entre seus povos se uniram e daí nasceu o JÊJE NAGÔ, assim como os FON designam os Yorubas, AJEJI que significa (estrangeiro) e NAGÔ (profundo, escondido) seus cultos eram fechados sendo realizados somente entre pessoas que moravam nestas tribos; os antigos Yorubás se referiam, na crença dos Voduns através dos seus segredos milenares que se fazem vivos até os dias de hoje, mantendo sua cultura, sua tradição. Assim como nos primeiros atos dos antepassados JEJÊ NAGÔ, no fundamento de origem da antiga Dahomé, mantedora do mais puro conhecimento passado de geração para geração, ou seja, de pai para filho. Com começo do tráfico negreiro no ano de 1885, ouve a separação deste grupo nascendo daí várias nações de Jêje. Há poucas descendências de JÊJE NAGÔ no Brasil. O termo ‘Nagô’ no Brasil, muitas vezes, é utilizado para discernir os diferentes grupos étnicos, tais como os mais conhecidos (Ketu, Sabe, Óyó, Egba, Egbado, Ijesa, Jebu, Banto e Efon) que a moderna etnologia chama de Yorubá generalizando-as por estarem vinculados a uma linguagem comum entre elas chamado "nação". Então, JÊJE NAGÔ é o escondido profundo que traz os mistérios dos Yorubás, aquilo que busca o conhecimento e o mistério, onde se encontra o significado e a origem de cada Vodun e nos ensina a cultuá-los de forma correta sem esquecer sua verdadeira origem (FON).

O Jêje Nagô tem no seu calendário festivo, e a sua principal comemoração são as "PANELAS DE NANÃ", que nas casas de outras nações como: Ketu, Efon, Angola, etc., comemoram em Agosto o Olubajé, que tem como significado a festividade em comemoração a FAMÍLIA JI (NAUÁ, AZAUANI, ABALUAÊ, VODUN DAN, YEWA, IROCO, OSSÃE, ITOTO) sendo aberta ao público, também se comemora nesta Nação a Feijoada de Togum, a Festa de Heviosso, Festa dos Vungis e Owon Omi Laió (As Águas de Vodun LISA). Nesta nação a casa (KWE) está em funcionamento o ano todo, somente cessando suas atividades por 03 (três) meses, após este período retorna às suas funções normais tanto internas quanto externas, porém nunca interrompendo os Orikis (Rezas) que é o marco dentro do Nação Jêje Nagô. Na Bahia na cidade de Ilhéus o Kwe Jidan Vodun Jo através de sua Mejito Dan Sra. Maria de Fátima mantém viva a Nação Jêje Nagô e a sua Cultura Afro Religiosa visando possibilitar o crescimento espiritual dos seus Filhos de Asé, os induzindo ao caminho dos VODUNS com amor e paz trazendo equilíbrio físico e psíquico perante as adversidades fortalecendo cada um perante os obstáculos, assim como expandindo todo conhecimento histórico e condições sociais e assuntos relacionado aos VODUNS perante a sua Nação."


Texto enviado por Adriana Santos, Ilhéus-BA.
kwejidanvodunjo@hotmail.com


Vamos entender?
Analisando o texto enviado por nossa colaboradora Adriana, percebemos, neste caso, um entrelaço cultural entre as etnias Fon e Yorúbà, que no primeiro momento, pode nos parecer confuso. Mas, logo, devemos entender que Jeje Nagô, é diferente de Jeje Mahi. Partindo deste princípio, a compreensão começa a aparecer, e tudo clareia quando lembramos de alguns fatos históricos.

Sabemos que a nação conhecida no Brasil como Jeje Mahi, é um culto pertencente a etnia Fon, já praticado desde antes da instauração do império do Daomé, é uma crença politeísta, e seu Deus (Vodun) principal é Dan, em algumas casas é Becen, e sua grande festa é o GBoitá. Tanto no Brasil quanto na África, principalmente em Uidá no Benin, este culto se faz presente, mantendo viva a tradição Fon.

Agora vamos voltar no passado, e lembrar de alguns fatos da história da África. No reinado do Rei Agadjá (1716-1740) o Daomé conquistou Aladá, onde ganhou contato direto com os comerciantes de escravos europeus na costa, porém Agadjá era incapaz de derrotar o reino vizinho de Oyo (Oió), principal rival do Daomé no comércio de escravos, e em 1730 transformou-se em um vassalo de Oyo (Oió), embora conseguisse ainda manter a independência do Daomé. Neste exato momento, temos o primeiro registro de fortes influências Yorúbà no Daomé, que até então era formado, em sua maioria, por povos Fon. O seu apogeu econômico ocorreu no início do século XIX com a exportação de grande quantidade de escravos para o Brasil e Cuba, tanto que o litoral era conhecido como Costa dos Escravos. O Daomé foi enfim conquistado pela França em 1892-1894. A maioria das tropas que lutaram contra o Daomé eram compostas por africanos nativos, a isto se acrescentou o sentimento de hostilidade contra o reino, particularmente entre os Yorúbà, levando à sua derrota final. Em 1960 a região alcançou a independência como a República de Daomé, que mudou mais tarde seu nome para Benin.

Identificamos então, que esta forma de culto, no Brasil denominada “Jeje Nagô”, ou ainda “Nagô Vodun” origina-se ou foi sendo moldado exatamente neste período (1730 à 1894), onde os Fon recebiam fortes influencias da cultura Yorúbà. O que explica este Culto a Vodun, com termos no idioma Fon e ao mesmo tempo uma grande presença de expressões da cultura Yorúbà.


Paulo Franco
paulofrancorio@hotmail.com

Umbanda (Coluna de Fátima Damas)


"A Religiosidade na Política"
Por Fátima Damas



Desde os mais remotos tempos as religiões sempre estiveram juntas da política. Em eventos públicos sempre marcam presença, ao lado de autoridades de Estado, representantes de outros segmentos religiosos. Não vemos nessas ocasiões os representantes da Umbanda e do Candomblé.

A Umbanda e o Candomblé não possuem representatividade reconhecida no Poder Público para se impor e se fazer presentes na cobrança ao Estado de políticas públicas que garantam um tratamento igual por parte do Executivo, Legislativo e Judiciário e da sociedade em geral para com seus adeptos. Esse fato se dá por alguns fatores:

a) a troca das grandes demandas da Umbanda e do Candomblé (espaços públicos para liturgias e oferendas, assessoria jurídica gratuita com agenda permanente, participação mais efetiva e objetiva dos adeptos na construção de planos sócio-políticos, projetos de lei, etc.) por favorecimentos políticos na forma de doação de telhas, construção de muros, cestas básicas, etc., permitidos por chefes de terreiros inescrupulosos que deveriam, ao contrário, como formadores de opinião em suas Casas de Santo e em suas comunidades, orientar seu corpo mediúnico a votarem de forma ética e coerente e a cobrarem daqueles que só aparecem em dias de eleição o cumprimento das promessas da campanha, normalmente esquecidas.

b) a expansão da política econômica neoliberal onde impera a lei de Gersom (a lei da vantagem), a lei do mais forte no mercado (canais de televisão, rádio, revistas, etc.) anulando todas as reivindicações das minorias (serão minorias?!), aliada ao poder do lobby e à doutrina da prosperidade difundida pelas igrejas eletrônicas, onde se lida com Deus na base da barganha. Os grupos neo-pentecostais sem dúvida estão mais voltados para a política e a comunicação de massa - estabelecendo-se em áreas carentes de ações públicas, que até existem, mas não são eficazes - auferindo para si cada vez mais poder político.

c) concessões do Poder Público para exploração de canais de televisão e rádio.

Nas religiões afro-brasileiras observa-se a preocupação religiosa com os preceitos de evolução espiritual e material dos indivíduos, todavia em confronto com as demais religiões, esses cultos encontram resistência às suas necessidades, precisando; portanto, da ação política como ponto de apoio na elaboração de lei que complementem a Constituição Federal, proibindo a discriminação da Umbanda e do Candomblé em todos os níveis.

Daí a luta em que se empenha a Congregação Espírita Umbandista do Brasil, um elo da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, preocupada também com os terreiros menores e em menor destaque em nossa comunidade, que buscam a inclusão e a absorção de seus direitos.

É conveniente que o “povo do santo” fique alerta e não-omisso nos períodos pré e pós eleição, tendo uma ação afirmativa em seu meio, contra a grande quantidade de candidatos que empregam até mesmo a linguagem e gestos religiosos, tentando iludir a boa fé daqueles que praticam a crença umbandista e candomblecista, e que esperam um tratamento de igualdade do Poder Público.

Fátima Damas
Presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil
Sacerdotisa do Templo Umbandista Vovó Maria Conga do Congo
Rua Sampaio Ferraz, 29 – Estácio – RJ – Cep: 20250-040
Tel: (21) 2273-3974
e-mail: ceubrasil@uol.com.br
homepage: www.ceubrio.com.br

Contando Histórias (Coluna de Mãe Sheila D'Oxum)


"A chegada do Candomblé ao Brasil E Suas Primeiras casas (Ilé)"
Por Mãe Sheila D'Oxum*


Candomblé é uma das Religiões Afro-Brasileiras praticadas principalmente no Brasil, mas também em países adjacentes. Entre 1549 e 1888, a religião foi desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com seus Orixás, sua cultura, e seus dialetos.

Embora confinado originalmente à população de escravos, proibido e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. É agora uma das religiões principais estabelecidas, com seguidores de todas as classes sociais e dezenas de milhares de templos. No período da escravidão no Brasil, os negros formavam suas comunidades nos engenhos de cana.

Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Oyó e Keto, fundaram uma comunidade num engenho de cana que funcionava numa Roça na Barroquinha, dentro do perímetro urbano de Salvador.

As princesas chamavam-se: Iya Detá, Iya Kalá e Iya Nassô.
O Engenho “Velho” chama-se Ilé Iya Nassô Oká.

No início, as atividades do Ilé Axé sofreram perseguições da Sociedade e por parte da Polícia. Já no período da República, o candomblé fora proibido de exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos, Entorpecentes e Lenocínio.

À Iyà Nassô, sucedeu Iyà Marcelina. Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iyà Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se e fundou outro Ilé Axé, o GANTOIS no ano de 1849. Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo).

Com a sua morte, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).

Vencendo o partido da Ordem, os Descendentes fundaram então, outro Ilé Axé, o OPÓ AFONJÁ.


Mãe Sheila D'Oxum

* Mãe Sheila é Iyalorixá. Foi iniciada no Rio de Janeiro em 1976 por Josertina da Cruz Lessa (Mameto Oya Ice), filha de santo de MonaDewi, também conhecida como Vó Nanã, fundadora de uma conceituada casa de tradição Banto em Aracajú-SE da raiz Bate Folha. Na década de 80 passou a fazer parte da nação Ketu ao tomar suas obrigaçõs com Baba Beto de Ajaguna. Em 1993, fundou sua "Casa de Santo", o Ilé Àse Àáfin Àbàmì Òsun, em Campos Elisios - Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, onde funcionou por alguns anos, e hoje é situada no Jardim Angélica - Piabetá. é divulgadora e defensora da Cultura Afro e Afro-brasileira. Desenvolve um trabalho de exclarecimento e entendimento aos seus filhos de santo, e procura informar ao máximo o povo em geral, através de programas de rádio e palestras, a respeito da cultura e da religiosidade afro que já foi tão reprimida no passado, e é discriminada ainda nos dias de hoje.

Egnibarijô: A construção de um novo canal de interlocução (Coluna de Vanda Ferreira)


“Racismo, exclusão ou dor de existir?”
Por Vanda Ferreira

Falar sobre esse tema me faz percorrer as dificuldades antigas, quando ainda no processo de busca de homens, mulheres e crianças no continente africano.

Durante muito tempo, e hoje nem tanto, um dos maiores obstáculos de nossa luta foi escrever a Odisséia do nosso povo, por nós mesmos. Os registros existentes são todos escritos pelo opressor, não há registro, apenas traços, de uma história impressa nas marcas do nosso corpo, de nossas vidas e do nosso cotidiano, nisto incluo, principalmente, o silêncio historiográfico dos dramas sociais legados ao nosso povo durante esses mais de quinhentos anos.

As marcas estão nos exemplos mais clássicos de racismo que mostram claramente a decadência de um projeto em que muito se investe, mas que não se sustenta. Aliás, falar nesse termo lembra-me que de sustentabilidade nós entendemos muito bem...

Gostaria, sem modéstia alguma, de interferir no pensamento de todos (as), sensibilizando-os (as) para esta matéria delicada.

Cumprir a tarefa de responder à altura os desafios impostos a nós tem sido veículo de uma história que só o movimento negro sabe contar e tem registrado.

Focar o esforço com que o negro em sua diáspora sinaliza os equívocos e suas conseqüências que a construção do racismo vem produzindo nos últimos quinhentos anos tem sido um desafio e também um componente crítico para a nossa saúde mental.

Talentosos individualmente, coletivamente poderosos temos resistido nesse mundo de exclusão e de racismo.

A academia, os projetos políticos tentam ou pensam que nos ajudam a enfrentar os desafios da caracterização de coexistir neste mundo globalizado e forjado com base na exploração do mundo africano, como forma de enriquecimento dos povos colonialistas e anulação dos africanos, que se refletem nos negros de diferentes nacionalidades.

O acesso ao desmantelamento dos mitos através do conhecimento da história dos povos africanos no período colonial e nos dias atuais (vide Ruanda e Serra Leoa) poderá ser o caminho para ascensão de novos talentos num mundo globalizado e competitivo.

Através desses três eixos: “Racismo, Exclusão e Dor de Existir” podemos começar a entender o Brasil através de uma riquíssima pesquisa que venha dar valor à importância dos registros das oralidades das culturas negras tendo como principal objetivo demonstrar as conseqüências negativas que implicam na formação social e econômica desse segmento da população brasileira.
Considero enriquecedor esse novo olhar, essa nova forma de transmissão e abordagem da história do Brasil que provavelmente trará como registro farta documentação histórica marcada pelas expressões que feriram e ferem o nosso consciente, o inconsciente e o nosso Ser, não permitindo uma coexistência mais harmônica com o Outro.

Aí sim, será possível ver, por um novo ângulo, a relação e a importância das matrizes que poderão fazer o Brasil emergir, nos próximos cinco séculos que virão, como uma grande nação.
Visão esta que não tem sido demonstrada com a mesma exatidão pelos autores que abordam tal assunto e que consideram o tráfico negreiro como uma das vertentes da realidade específica da escravidão negra no Brasil.

A bipolaridade destas relações tem sido incompatível para a abertura de novos campos de reformulação. Envolver a psicanálise nesse contexto histórico pode ser muito rico e produtivo para a cultura afro-brasileira e para a análise dos comportamentos da realidade negra brasileira, pois estaremos assim procurando esclarecer a problemática específica que nos envolve.

Talvez o grande desafio da psicanálise seja entender como se processou a preservação da Cultura Negra na África e em sua diáspora, a anulação da África como berço do processo civilizatório da humanidade e ela sendo colocada na história mundial como se fora uma civilização menor em detrimento da desvalorização de sua cultura.

Estudar os efeitos maléficos e suas conseqüências causadas nos afrodescendentes na sociedade atual é entender alguns distúrbios psíquicos que a relação escravocrata nas Américas deixou como legado nas gerações dos oprimidos, que nada mais é que o desmantelamento do seu ser.

O nosso cancioneiro popular traduz muito bem em alguns sambas-enredo que do século XVI até os nossos dias as mudanças para integração dos negros na sociedade foram pouco significativos.
O antes e o depois, o aqui e o agora, e o futuro como réu.

Vejo que essa parte da ciência biomédica, a psicanálise poderá ser um grande aliado na luta pelos Direitos Humanos e na preservação da nossa espécie (a humana) se alguma de suas correntes quiser inovar e trabalhar em cima dos dados que o grande psiquiatra Franz Fanon revela.

As grandes descobertas, na maioria das vezes, estão centradas na quebra de paradigmas. Pensar no indivíduo como se todos os seres humanos fossem iguais nas suas relações sociais é que me parece ser a grande utopia da psicanálise e o que nós negros desejamos é ter a possibilidade de assegurar a nossa existência no Brasil e no mundo sem as mazelas do racismo.

Em apoio a Lei 10.639 pretendemos através desta coluna publicizar os resumos das monografias dos alunos(as) da turma de Pós-Graduação da História da África e do Negro do Brasil da Universidade cândido Mendes do ano de 2008.

O tempo não para e todos os brasileiros precisam contribuir para a aplicação desta Lei. Esta será a nossa pequena contribuição para a nosso publico das casas de Axé.

Vanda Maria de Souza Ferreira
e-mail: vandamf@gmail.com
Tel: 2295-9325

Os Surdos São os Outros - Intolerância Religiosa e Racismo‏

Etnia e Religiosidade
Por Rosiane Rodrigues*

Sem muito alarde, em junho de 2009, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa – CCIR - entregou relatório ao presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Martin Uhomoibai. O documento, além de relatar casos exemplares de perseguição religiosa, acusa a Igreja Universal do Reino de Deus, assim como outras denominações neopetencostais, de promover uma ditadura religiosa no Brasil, através de sua prática racista e discriminatória contra religiosos de matriz africana e minorias étnicas. Na época, a Folha de São Paulo, ao noticiar a entrega do relatório, entrevistou o sociólogo Ricardo Mariano, da USP, que discordou do viés racista da denúncia da CCIR e afirmou que “a atitude adotada pela Igreja Universal é motivada (apenas) por questões estritamente religiosas”, sem ter nenhuma correlação racial. Passado um ano, o relatório publicado pelo Grupo Internacional pelos Direitos das Minorias (Minority Rights Group International - MRG), amplamente noticiado pela imprensa mundial, constata que a intolerância religiosa é o novo racismo.

Interessante observar que a constatação de Mark Lattimer, diretor da organização que elaborou o estudo europeu, confirma o que os religiosos brasileiros sabem há muito tempo: a intolerância religiosa é uma das faces do racismo. A questão é que praticar o racismo não é apenas segregar pela cor da pele ou origem étnica. É pretender impor a visão dominante (superior e civilizada) com o objetivo de aniquilar as concepções de mundo e identidade de grupos dissidentes (ou resistentes), tratados como primitivos e inferiores.

Outra recente pesquisa realizada pela Univer Cidade, coordenada pelo professor Bayard Boiteux, ouviu 800 pessoas, na cidade do Rio de Janeiro. O estudo pretendeu fazer um mapeamento do preconceito do carioca. Divulgada pelo Jornbal O Dia, os dados revelaram que 40% dos entrevistados têm preconceito religioso, principalmente com as religiões de matriz africana. O número chama atenção por ser bem maior que o preconceito racial (30%) e a homofobia (20%).

Um mundo sem raças

Assim como a pesquisa da Univer Cidade, a divulgação do Relatório do MRG não chegou a causar frisson nas redações. É sabido que uma parte significativa da imprensa brasileira (e da Academia) faz um esforço hercúleo para classificar pretos, brancos, amarelos, vermelhos, judeus e ciganos como representantes de uma única raça, a humana. É uma discussão que só faz sentido para quem enxerga na desracialização do discurso uma forma de preservar os "diferentes" de ataques e perseguições. Essa fórmula já se mostrou ineficaz - haja visto os grupos neonazistas que continuam existindo em todo mundo - além de ensurdecer a sociedade para questões que precisam ser amplamente discutidas. Talvez tenha sido este o motivo da pouca repercussão do relatório europeu – noticiado até pela Rádio do Vaticano – por aqui. É o reflexo da banalização da discriminação religiosa num país que aprendeu que as expressões religiosas dos africanos, indígenas e minorias étnicas são “magia negra”, “macumba", "coisas do demônio” e “primitivas”.

Não é difícil entender o quanto a afirmação de Lattimer pode estar afligindo as redações. Ela faz cair por terra teorias míticas da sociedade brasileira: 1) o Brasil é uma democracia racial, mesmo com todas as evidências da existência de um fosso abissal que separa os negros dos brancos; 2) O Brasil é uma democracia religiosa, mesmo com cadeias comunicacionais, políticas e econômicas, dominadas por neopentecostais, que perseguem acintosamente outras religiões; 3) As redações se habituaram a tratar a diversidade brasileira – étnica, cultural e religiosa - como folclore ou algo pitoresco.

A liberdade está com quem detém o poder econômico

Outro dado que merece ser destacado no relatório da MRG é que "a marginalização econômica que sofrem certos grupos (...) levaram a uma crescente tendência à perseguição das minorias religiosas na maioria dos países da Europa Ocidental e da América do Norte". Se trouxermos esta afirmação para a realidade histórica do país, percebemos que fica fácil “fazer a ficha cair”. O Brasil, colonizado por portugueses e considerado hegemonicamente cristão, ao importar, em meados século XIX, imigrantes europeus e asiáticos como trabalhadores assalariados em detrimento dos descendentes de africanos, recém libertos pela Abolição da Escravatura, realizou uma política pública de “embranquecimento”. Isso significa dizer que para o trabalho escravo o africano serviu - e o seu tráfico foi uma das maiores fontes de renda da Coroa Portuguesa, por séculos. Mas, para o trabalho assalariado, com dignidade e reconhecimento, foram trazidos outros povos – italianos, alemães, poloneses, japoneses.

O processo de dominação formulado pelos colonizadores - brancos, cristãos, europeus - incutiu na sociedade o entendimento que os negros e índios eram sujos, indolentes, trapaceiros e que praticavam rituais demoníacos, além de representarem um risco a mais por serem a maioria da população. Os imigrantes inegavelmente contribuíram para o enriquecimento da nossa diversidade, mas chegaram aqui em condições privilegiadas em relação aos africanos e, de certa forma, serviram para dar uma “clareadinha” no povo brasileiro, além de ajudarem a consolidar os padrões eurocêntricos de vários governos (já) republicanos. Desde o Império, os governantes tinham o objetivo essencial de aniquilar as identidades culturais, étnicas e religiosas trazidas pelos negros da África e perpetuada por seus descendentes, como forma de resistência. O mesmo processo, guardadas as devidas especificidades históricas e culturais, aconteceu com os índios e mais tarde com ciganos e outros grupos minoritários.

Dilema é assumir o racismo na sociedade brasileira

Setores da grande imprensa e da Academia, a partir de agora, precisam enfrentar este antigo dilema, reavivado por estas incomodas pesquisas: vai, obrigatoriamente, repensar suas linhas editoriais e de levantamento de dados para manter o “estabilishment”, ou correr o risco de ter que – necessariamente - admitir o óbvio: a) o Brasil vive uma das mais perversas práticas do racismo – que é o estrutural – há cinco séculos; b) que esta prática racista não se limita as fronteiras do tom da pele ou ascendência e, ainda hoje, tem como alvo os signos e símbolos utilizados pelas comunidades religiosas afro descendentes e outras minorias; c) que a marginalização econômica e social dos povos negros e indígenas – que são as bases da cultura do Brasil – fragilizou ainda mais essas populações; d) que o racismo estrutural é um dos motivos da desmobilização e invisibilidade social e cultural de negros e índios; e) que os neopentecostais se aproveitam do preconceito racial – que é latente e histórico na sociedade brasileira – para estruturarem seus discursos e práticas persecutórias e arregimentar cada vez mais fiéis, que se transformam em poderio político, eleitoral e comunicacional; f) que é comum – para governantes, jornalistas e formadores de opinião - a demonização e criminalização das religiões dos povos que foram escravizados e que são considerados primitivos e não civilizados; g) que a intolerância religiosa que assola o país e vitimiza milhares de homens, mulheres e crianças é o reflexo do racismo enraizado na sociedade.

Bom, as redações e os pesquisadores podem também optar em nem sequer pensar sobre esses temas e manter a sujeira do racismo brasileiro – transfigurado em crescente intolerância religiosa - bem varridinho, para debaixo do tapete. Mas, depois da divulgação dos relatórios da MRG e da Univer Cidade, o tapete corre o risco de ter que crescer muito para abrigar um grande lixão.



* Rosiane Rodrigues é jornalista, assessora de imprensa da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e coordenadora de Comunicação Social do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP)

A parte que nos cabe neste latifúndio

Por Jorge Damião* em 22 de junho de 2010.



Ao observar o contentamento de alguns militantes do Movimento Negro, com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, semana passada no Congresso Nacional, somos obrigados a refletir sobre o processo de tráfico de seres humanos, oriundos da África, para trabalho escravo no Brasil. Interessante também reparar que a elite representada nos dias de hoje pelo Partido dos Democratas - que relatou o Estatuto -, é a mesma elite escravocrata instaurada no Brasil há mais de quatro séculos. Por 363 anos, o Brasil institucionalizou uma política de dominação e de crescimento econômico pautados quase exclusivamente no trabalho escravo e no sistemático assassínio de pessoas – que antes de perderem suas vidas, perdiam as suas referências familiares, culturais e étnicas. Isso sem falar nos muitos milhares de africanos que, ao bel prazer de seus sequestradores europeus, eram brutalmente assassinados e jogados em alto mar durante as rotas marítimas, que traziam mulheres, homens e crianças, para servirem como escravos. A escravidão só foi possível àqueles que sobreviveram à indústria da morte, comandada pelos traficantes europeus.

O Brasil enriqueceu a custa do sequestro, cárcere privado, escravidão, castigos físicos e psíquicos daqueles que formaram e formam - até os dias de hoje - a base econômica e cultural de seu povo. É preciso insistir que o ciclo de sequestros, tráficos, assassinatos e escravidão no país só foi possível porque esta era uma política governamental, portanto institucional, com vistas ao seu crescimento e desenvolvimento econômico. E é sobre este ponto vista que a discussão do Estatuto da Igualdade Racial deve ser centrado.

Importante observar também que, ao contrário dos africanos, que vieram pra cá em condição de “semoventes” – nem coisa, nem gente – o Governo do Brasil promoveu políticas públicas de incentivo fiscal, objetivando o embraquecimento da população, para italianos, japoneses, alemães e outras nações européias.

Então, concluímos que os primeiros europeus que vieram para o Brasil, financiados pela Coroa Portuguesa, e que foram os maiores pagadores de impostos à Portugal, tinham a perspectiva de exploração de riquezas, através do trabalho escravo e o tráfico de africanos; ao fim de mais de três séculos, logo após o processo de “abolição dos negros”, os outros europeus que chegaram, financiados pelo Governo brasileiro, vieram como alternativa de mão de obra assalariada, numa proposta eugênica de embranquecimento nacional. Enquanto isso, os ex-escravos ficaram à própria sorte, sem casa e condições de trabalho e renda.

É impossível discutir Igualdade Racial no Brasil sem levar em conta as Reparações aos negros e negras brasileiros, descendentes dos sobreviventes da indústria da morte e da servidão no país. Por isso, garantir a titularidade das terras quilombolas deveria ser compreendido como obrigação do Governo brasileiro com a comunidade negra; tornar obrigatório o estudo de História da África nas escolas, é mais que um dever do Estado - que precisa contar a verdadeira história de seu país e ressaltar as centenas de ícones negros, muitos descendentes diretos de escravos, de nossa sociedade, cultura, artes, literatura.

É preciso que nós, negros e negras, isentos de paixão e utopia, façamos a sociedade refletir sobre "a parte que nos cabe deste latifundio". Não queremos favores nem benesses. Só queremos que o Governo do Brasil reconheça que não se faz justiça com migalhas. Ou temos uma política institucional, séria, comprometida com a metade da população brasileira, ou não adianta ficar fazendo marolinha com questões como o acesso à Educação e Saúde. Essas últimas deveriam ser prioridade para qualquer governo disposto a reconhecer a importância do povo que construiu a riqueza deste país.



(*) Jorge Damião, é membro da executiva nacional do CONEB – Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil – e coordenador de Articulação Política do CEAP - Centro de Articulações de Populações Marginalizadas.


Divulgando ações de Parceiros

A CASA CRISTÃ DE CARIADE IRMANDADE BATUÍRA E PAI MIGUEL DAS ALMAS


Convida a todos (as) os membros da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, amigos (as) e irmãos (ãs) de fé para participarem do lançamento em Anchieta da III Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa- Eu tenho Fé!

É muito importante a presença de todos (as), pois esse é um dos passos para a construção do respeito à Igualdade Religiosa e a Democracia.

SÁBADO DIA 21 DE AGOSTO DE 2010

Local: Sede da Instituição

Endereço: Rua Adalberto Tanajura, nº 196 Anchieta/RJ

Horário: 16h

Irmãos

Até lá,

Saravá e muito Axé para Todos (as)

Sebastião Mauro de Sá
Presidente / Sacerdote
(21) 9946-3214/ 2455.6218



MISSÃO
“Promover valores éticos e cristãos visando ao desenvolvimento humano, cultural, social pela investigação da verdade, o ensino e a difusão da cultura, que dão pleno significado à vida humana, capacitando a integração das pessoas em um empreendimento comum para o compromisso com a vida”