sábado, 7 de agosto de 2010

ANALFABETISMO FUNCIONAL Preocupa Educadores. E a 10639, como aplicar? Quando teremos êxito?

Aos 16 anos, Rafael de Oliveira é um adolescente tranquilo. Morador da Vila da Penha, joga futebol com os amigos, solta pipa e gosta de pagode e hip hop. A única parte da vida de Rafael que foge um pouco a essa tranquilidade é sua rotina escolar. Aluno da oitava série do ensino fundamental da rede municipal de ensino, o adolescente não sente muito orgulho ao exibir o boletim escolar para a mãe. Com notas abaixo da média, Rafael costuma sofrer com provas e trabalhos escolares, principalmente para interpretar textos e enunciados.


Rafael faz parte dos 24% da população brasileira entre 15 e 24 anos, que cursam entre a 5ª e a 8ª série e que são considerados alfabetizados rudimentares. Ou seja, possuem sérios problemas de leitura, escrita e resolução de problemas de matemática. Os dados fazem parte do Indicador de Alfabetismo Funcional 2009, relatório desenvolvido pelo Instituto Paulo Montenegro, entidade ligada ao Ibope.

De acordo com o relatório, os índices de analfabetismo vêm caindo ao longo dos anos no país, entre a população de 15 a 64 anos. Se no biênio 2001/2002 a população de analfabetos funcionais era de 39%, essa porcentagem caiu para 28% em 2009, enquanto o número de alfabetizados aumentou de 61% em 2001/2002 para 72% em 2009. Apesar da melhora, especialistas garantem que esse número ainda está longe de ser considerado ideal.

"Os resultados do Ideb, divulgados nesta semana, estão aí para provar que, mesmo com a melhora geral, ainda temos resultados muito ruins, principalmente se considerarmos o Rio de Janeiro", afirma a pedagoga Aline Feijó. Segundo ela, para que a melhora neste quadro se acelere é necessário que sejam realizados investimentos maciços em educação de base. "Não é só uma questão do aluno saber ler, mas sim entender o que está lendo", explica.

Professor de Língua Portuguesa do Colégio Pedro II, Felipe Diogo também se mostra preocupado com a qualidade dos alunos que chegam ao Ensino Médio. Para ele, mesmo com o fim da aprovação automática, ainda vai demorar um bom tempo para que os alunos possam superar os danos causados por essa política educacional.

"Muitos alunos chegam ao Ensino Médio sem saber apreender o significado de um enunciado de prova. Como trabalhar escritores como Machado de Assis e José de Alencar com um aluno que completou o Ensino Fundamental sem saber interpretar um texto?", indaga.

Em entrevista concedida no mês de abril ao programa de rádio "Bom dia, ministro", Fernando Haddad, ministro da Educação, afirmou que o analfabetismo entre a população de 15 anos ou mais será erradicado no país até o ano de 2015. Haddad explicou que esta é a meta estabelecida pelo acordo de Dacar, Conferëncia Mundial de Educação realizada na capital senegalesa no ano de 2000 e que prevê a redução da taxa de analfabetismo para 6,7% nos próximos cinco anos.

Ainda sengundo o Inaf, 54% da população entre 15 e 64 anos que cursaram ate a 4ª série do Ensino Fundamental não são capazes de compreender informações contidas em textos longos ou resolver problemas de cálculo. Deste percentual, 10% são considerados analfabetos absolutos, ou seja, não sabem ler em escrever. Para Aline Feijó, a solução para este problema é investir em políticas públicas de qualidade, com a boa formação de professores, além de guarantir melhores salários aos profissionais da classe.

"Somente com um corpo docente bem preparado teremos condições de mudar esse quadro de analfabetismo funcional. Saber ler vai muito além de juntar sílabas e formar vogais e palavras. O aluno tem que saber o que está lendo, compreender o significado do texto, a informação que o autor quis passar através daquela mensagem. E se isso não for feito no ensino fundamental, a tendência é que a qualidade das escolas do Ensino Médio só piore", finaliza.

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